A obesidade é uma condição complexa que vai muito além do peso na balança. Durante décadas, o Índice de Massa Corporal (IMC) foi o principal critério para diagnosticar a doença. No entanto, especialistas de todo o mundo estão propondo uma reformulação nessa abordagem, sugerindo que o IMC não é mais suficiente para um diagnóstico preciso. Neste artigo, explicamos por que essa mudança é necessária e como ela pode impactar o tratamento da obesidade.
As limitações do IMC
O IMC é calculado dividindo o peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros). Embora seja útil para estudos populacionais, ele não leva em consideração a distribuição de gordura no corpo. Isso significa que pessoas com excesso de gordura visceral — aquela que se acumula em torno de órgãos como o fígado, o coração e os músculos — podem não ser classificadas como obesas pelo IMC, mesmo estando em risco elevado de desenvolver problemas de saúde.
“Confiar apenas no IMC para diagnosticar obesidade é problemático”, explica Robert Eckel, professor de medicina da Universidade do Colorado e membro da Comissão sobre Obesidade Clínica. “Algumas pessoas armazenam gordura em áreas críticas, o que aumenta o risco de doenças, mas isso não é refletido no IMC.”
Uma nova abordagem para o diagnóstico
A Comissão sobre Obesidade Clínica, formada por 56 especialistas globais, publicou na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology uma proposta para reformular o diagnóstico da obesidade. A ideia é complementar o IMC com outras medidas, como:
- Medições corporais: Circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura.
- Medição direta da gordura corporal: Exames como densitometria óssea (DEXA) podem fornecer informações mais precisas sobre a quantidade e distribuição de gordura.
- Avaliação clínica: Sintomas como falta de ar, dores articulares e disfunções em órgãos devem ser considerados.
Essa abordagem permite um diagnóstico mais personalizado, levando em conta as particularidades de cada paciente.
Novas categorias de obesidade
A proposta também introduz duas novas categorias para classificar a obesidade:
- Obesidade Clínica:
- Associada a sintomas como falta de ar, insuficiência cardíaca, dores articulares e disfunções em órgãos.
- Considerada uma doença clínica que requer tratamento imediato.
- Obesidade Pré-Clínica:
- Caracterizada pela função normal dos órgãos, mas com risco aumentado de desenvolver doenças crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer.
- Requer acompanhamento médico para prevenir complicações futuras.
Essa classificação ajuda a identificar pacientes que precisam de intervenção precoce, mesmo que ainda não apresentem sintomas graves.
Impacto no tratamento e políticas públicas
A nova abordagem tem o apoio de endocrinologistas brasileiros, que destacam a importância de uma visão mais ampla e humanizada da obesidade. “Essa proposta coloca a obesidade no centro, não apenas como um fator de risco, mas como uma doença base para o desenvolvimento de outras complicações”, afirma Paulo Miranda, coordenador da Comissão Internacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Além disso, a reformulação pode melhorar o acesso a tratamentos no SUS e direcionar políticas públicas mais eficazes. “É uma abordagem mais científica e humanizada, que combate a ideia de que obesidade é uma questão apenas de força de vontade”, diz Bruno Halpern, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Obesidade no Brasil: um desafio urgente
Dados do IBGE mostram que mais da metade dos adultos brasileiros têm obesidade ou sobrepeso. Um estudo de 2024 alerta que, se nada for feito, 75% da população adulta estará nessa situação em 20 anos. A reformulação no diagnóstico é um passo crucial para enfrentar essa epidemia, garantindo que cada paciente receba o cuidado que realmente necessita.
A proposta de reformulação do diagnóstico da obesidade marca um avanço importante na medicina. Ao considerar não apenas o peso, mas também a distribuição de gordura e os impactos na saúde, os especialistas buscam um tratamento mais preciso e personalizado. Na Clínica Dr. Hélio Nobre, estamos atentos a essas mudanças e comprometidos em oferecer o melhor cuidado para nossos pacientes.
Se você tem dúvidas sobre obesidade ou deseja agendar uma consulta, entre em contato conosco. Sua saúde é nossa prioridade!